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“90% dos jogadores e dirigentes não conhecem a regra”, dispara Garrido

por Marcos Valença e Leonardo Santana em 28 de Março de 2014 00:00

O árbitro do último clássico BaVi, disputado na Arena Fonte Nova, no dia 23 de março, Manoel Nunes Lopo Garrido, concedeu uma entrevista especial ao Galáticos Online, onde comentou sobre os lances da partida e discursou sobre a arbitragem baiana. No bate-papo, o juiz disse que “90% dos jogadores e dirigentes não conhecem a regra do futebol”.

Garrido falou também sobre a possibilidade de um árbitro baiano apitar a final do Campeonato Baiano caso seja disputada entre Bahia e Vitória. O juiz explanou ainda que “quem apita é ser humano, não é robô” e mostrou insatisfação com a cobrança feita por dirigentes.

Confira a entrevista completa com Manoel Nunes Lopo Garrido:


Galáticos Online: Como avalia a sua arbitragem no BaVi do dia 23 de março, disputado na Arena Fonte Nova?

Manoel Nunes Lopo Garrido: Com certeza vejo com muita tranquilidade. Dormi com a cabeça no travesseiro e não pesou. Graças a Deus não houve erros. O jogo foi muito bom, os jogadores foram para o objetivo que eles têm que é jogar bola. Uma falta ou outra que a gente marcou que surgiu um cartão amarelo, mas é normal de jogo. Sem o contato físico não existe jogo, sem uma jogada um pouco mais ríspida, mas não houve erros que influenciassem. Estou feliz não só por mim, mas pela arbitragem do estado da Bahia.

GOL: Os torcedores do Vitória questionaram um lance envolvendo o zagueiro Demerson. Alegaram que o defensor do Bahia poderia ter sido expulso. Como você avalia a situação?

MNLP: Não foi só o torcedor, o próprio técnico, o Ney Franco, eu soube de uma entrevista posterior que ele comentou. Mas ali nós usamos a regra, e em vistas da regra, eu estou correto, consciente e tranquilo. As pessoas reclamam quando querem algum tipo de vantagem, mas infelizmente no meio do futebol, no meio desportivo é assim. Quando se erra ou quando a equipe não vai bem, tenta também jogar a responsabilidade para o ponto mais fraco e o ponto mais fraco no jogo de futebol é a arbitragem. É muito mais fácil culpar um do que culpar uma equipe.

GOL: O lance do Rhayner gerou um questionamento e a diretoria do Vitória alegou que ele também deveria ser expulso. Como você ver essa situação?

MNLP: Mais aí eles vão ter que fabricar árbitros. Porque se cada árbitro for seguir diretoria de clube é melhor botar robô. Quem apita é ser humano, não é robô, nem é mandado por ninguém. É pela consciência naquele momento e a minha consciência, a minha visão, com clara nitidez, não houve lance para expulsão. Inclusive um jogador do Vitória, sem querer também, pegou o Rhayner. Não foi por querer e porque o dirigente do Vitória não pediu a expulsão? Expulse meu jogador porque ele feriu o colega adversário. Aí ninguém fala. As pessoas só falam a seu favor, mesmo estando erradas. Infelizmente é a nossa cultura, é a cultura do futebol.

GOL: Como é que fica o seu pensamento se a final for um BaVi. A arbitragem baiana tem que ser prestigiada?

MNLP: Não depende da gente. Não é o primeiro ano que isso acontece, graças a Deus, os outros anos, 2011, 2012, trouxeram árbitro de fora sem justificativa. Então, eu espero de tudo, espero sim, que os colegas terminem. Se não for eu, que seja algum dos meus colegas. Torço porque aqui ninguém caiu de paraquedas, aqui os colegas treinam, temos preparação. Não somos diferentes dos outros estados, ninguém caiu no meio do campo, tome aqui o apito e resolva. Não é assim, tenho vinte anos de esforço, vinte anos treinando. Eu fiz um teste físico sexta-feira do quadro nacional para a CBF, que se eu perdesse eu estava fora do BaVi, óbvio. Se eu perdesse no teste físico como é que eu vou apitar? Mas ninguém vai lá ver o que é o teste físico. Ninguém vai ver o esforço que você se prende, o tempo que você perde. Acha que só quem perde tempo ou quem treina é jogador ou é o técnico. Nós também, o espaço de todos tem que se conquistar com trabalho e o nosso não é diferente. Infelizmente as pessoas não sabem disso, não sabem o que está por detrás de um árbitro, o contexto da arbitragem. Ninguém cai de paraquedas, você tem que tomar um curso, tem que estudar, tem que treinar, evoluir.

Quantos e quantos colegas têm uma boa perspectiva, sem citar nomes, já tivemos colegas a nível nacional, melhor do Brasil, três, quatro vezes e não continuam na Fifa, sabe por que? Porque não conseguiu passar no teste físico. É difícil, eu faço 45 anos esse ano e tem colegas com a idade inferior que não passam no teste. Eu passo à toa? Não é assim não. Quem está do lado de lá, o dirigente ver o lado dele, o Bahia ver o lado dele, o Vitória ver o lado dele e eu tenho que ver o meu. Cada um reclama o que quer, mas fiz com consciência e graças a Deus as críticas gerais pelo o que eu ouvi e pelo o que me falaram, porque eu não ouço rádio e não vejo televisão nem antes nem depois do jogo.

Se não você fica chateado, ouvindo fatos do gênero. Dizer que aquele lance é pra expulsão. Como é pra expulsão? Você leu a regra? Você conhece a regra? Tinha condição clara de marcar um tento? Estava sozinho? Não estava. O que cometeu a falta e logo a frente tinha o Titi, então ele não leu a regra, não sabe o que é a regra. Nem ele, nem 90% dos jogadores e dirigentes não conhecem a regra do futebol. Conhece sim, o querer levar vantagem, todo mundo conhece isso. É jogador dentro de campo querendo te enganar. Perdoe-me aí, mas o jogador brasileiro não tem uma fama boa, porque todo mundo querendo enganar o árbitro, simular, vide Real Madrid e Barcelona, que foram três pênaltis. O colega europeu, no maior clássico do mundo, estrelas do mundo, o árbitro marcou três pênaltis. Não estou aqui criticando, menosprezando ou achando que foi ruim a arbitragem ou o jogo. O jogo foi excelente pelos comentários e pelos lances que vi. Foi um clássico de milhões, se você for ver as cifras que rolam entre Real Madrid e Barcelona, são as duas equipes que mais investem no mundo e o árbitro errou. Eu não marcaria os três pênaltis do jogo.

Eu já errei em um BaVi, em 2011, se não me engano a favor do Vitória. Errei no lance, marquei uma falta, que depois fui ver na televisão, inexistente. Houve uma falta anterior e não marquei, aí marquei a subsequente, a favor do ataque e na sequência surgiu o gol. O dirigente foi na rádio que eu estava errado em favorecer a equipe dele? Você está entendendo o que é arbitragem, o que é o futebol, o contexto do futebol? Futebol é isso, eu vou errar, eu sou humano. Graças a Deus eu sou humano.

GOL: O Galáticos Online fica grato ao Garrido por explicar os lances que alguns torcedores e dirigentes questionaram. Deixe um recado para os leitores do site.

MNLP: Não é nem a versão dos lances. É a realidade, se eu tivesse errado, eu sou homem digno o suficiente para assumir que errei no lance. Mas já vi os lances e sei que não errei. O contexto geral que entende um pouco de futebol sabe que eu não errei. Mas é muito mais fácil culpar um, do que culpar um time inteiro.

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