Inicialmente, deve-se explicar que a intenção do texto não é julgar moralmente o Atleta Marcinho. Deseja-se, profundamente, um futuro de mudanças e o cumprimento das determinações que, por ventura, o Poder Judiciário lhe impute.

Dito isso, menciona-se que, em verdade, o conteúdo deste texto não se relaciona diretamente a algum atleta, mas, sim, ao Esporte Clube Bahia e, especialmente, ao comportamento daqueles que gerem o clube. Busca-se aqui muito mais perguntar do que responder. Sendo assim, vamos aos fatos que sustentam os referidos questionamentos.

No dia 21 de dezembro de 2020, o Esporte Clube Bahia, por meio de nota dirigida ao torcedor e à sociedade de maneira geral, informou que o atleta Índio Ramirez, então jogador do Bahia, na época acusado de ter cometido injúria racial contra Gerson, atleta do Flamengo, seria imediatamente afastado das atividades da equipe, até que fosse concluída uma apuração. Por meio de nota oficial, disse o Bahia:

O Esporte Clube Bahia vem a público se manifestar sobre a denúncia de racismo feita pelo atleta Gerson, do Flamengo, ocorrida na noite deste domingo (20).

O atleta Indio Ramírez nega veementemente a acusação e a ele está sendo dada a oportunidade de se defender de algo tão grave.

O clube entende, porém, que é indispensável, imprescindível e fundamental que a voz da vítima seja preponderante em casos desta natureza.

Assim, decidiu afastar imediatamente o jogador das atividades da equipe até a conclusão da apuração.

O presidente Guilherme Bellintani ligou para Gerson a fim de prestar solidariedade.

Mais do que celebrável, a postura do Bahia foi necessária e aguardada, uma vez que os atos acima citados se coadunaram integralmente com a histórica postura do clube, responsável por encampar lutas em favor de minorias sociais, definidoras, portanto, de mudança das estruturas sociais da sociedade brasileira.

O afastamento do Índio Ramirez foi mais uma das louváveis atitudes daquela gestão, que anteriormente já havia realizado campanhas contra a homofobia, contra crimes ambientais e contra o racismo. A decisão tomada em 21 de dezembro de 2020 era a consequência natural de um clube que buscara adotar novas diretrizes a partir da criação de um núcleo de ações afirmativas.

O problema está quando se decide seguir ao lado oposto das referidas condutas. E é daí que surgem os questionamentos à contratação de Marcinho, mas não apenas à dele. Cabe aqui rememorar que em julho de 2021, o Bahia decidiu recontratar, para o time feminino, a atacante Gadu, acusada agressão à ex-namorada. Na ocasião, a torcida criou um movimento nas redes sociais, denominado #GADUNÃO, porém não impediu a manutenção do retorno da atleta.

O questionamento aqui apresentado em face da contratação de Marcinho está afastado de uma possível inobservância da presunção de inocência. O que se pontua é que a contratação do jogador, de certa forma, contraria posicionamento anteriormente adotado pelo próprio Guilherme Bellintani. No caso de Índio Ramirez, ele foi categórico ao afirmar que a voz da vítima deveria preponderar e, mais do que isso, demonstrou que apenas a acusação da vítima já seria o necessário para justificar um afastamento do atleta.

O que mudou de lá para cá? Por que o Esporte Clube Bahia há tanto tempo não se posiciona expressamente em combate às opressões das minorias sociais? Por que Índio Ramirez foi afastado pela mera palavra da vítima e agora se aceita a contratação de Marcinho?

Caro torcedor, a intenção desses questionamentos é possibilitar uma reflexão acerca de certas transformações perpetradas no Bahia, de modo a buscar entender os motivos de adoção de comportamentos contraditórios na mesma gestão. Sendo assim, faço mais uma pergunta: O Bahia de hoje é o mesmo Bahia tido como referência pela postura firme em defesa de uma sociedade mais igualitária e justa?