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Nelsinho Góes fala sobre fim de categorias, relação com Petkovic e objetivos da base do Vitória

por Anderson Matos em 30 de Junho de 2017 00:00

Nelson Jorge de Araújo Góes Filho, ou simplismente Nelsinho Góes, é o gestor de futebol da base do Vitória. Após idas e vindas, o profissional de 49 anos voltou ao rubro-negro no início deste ano, quando a atual gestão assumiu o clube. Na semana passada houve uma grande reformulação dentro da base do Leão e Nelsinho foi um dos poucos remanescentes.

A equipe do site Galáticos Online conversou com o gestor e dentre muitos assuntos, Góes fala sobre a sua relação com Petkovic, qual o objetivo da extinção de algumas categorias da base do Vitória e o principal objetivo depois da reformulação: revelar jogadores ou formar títulos.

                                             

                                                             (Foto: Chiquitinha Maravilha)                                                               

Galáticos Online - Conta sua origem no Vitória.

Nelsinho Góes - Eu cheguei no Vitória em 1995. Foi o primeiro clube que eu trabalhei como profissional do futebol. Naquela oportunidade cheguei para comandar o sub-14, fui passando de categoria e depois sai. Voltei em dezembro de 2001, ficando até 2004. Sai de novo e retornei agora nessa gestão, no dia 2 de janeiro deste ano.

Galáticos Online - O que mudou no clube desde o seu último retorno?

Nelsinho Góes - Se for fazer uma retrospectiva do clube, o Vitória iniciou o seu processo de profissionalização da divisão de base gradativamente, com os recursos que tinham na época, desde o início da década de 90. De lá pra cá, ela vem se aperfeiçoando ao longo dos anos. Nós encontramos uma estrutura de trabalho muito boa. O Vitória tem quatro campos de treinamento exclusivos para as suas categorias de base. Tem um quadro de funcionários com: assistente social, psicólogo, nutricionista, todas as pessoas que fazem o quadro interdisciplinar do clube funcionar muito bem e com jogadores em bom nível, jogadores competitivos, bem como comissões técnicas experientes. Algumas dessas comissões vieram conosco, como: Laelson Lopes, Rodrigo Chagas e Luciano Moura, que vieram agregar valor aos que já estavam aqui. Com tranquilidade, com organização e disciplina, eles foram implementando as suas metodologias de treinamento. Um trabalho coordenado entre as categorias. O Vitória teve nesses primeiros seis meses, seis atletas convocados para a Seleção Brasileira: dois para o sub-15, dois para o sub-17 e dois na sub-20. Isso sinaliza uma confiança da CBF num trabalho bem feito, sendo o maior clube do Nordeste a dar mais jogadores a seleção, retomando essa condição. Nesses seis meses fomos campeões da Rede Ball sub-16, Copa Natal sub-17 e retomamos a hegemonia do Baiano sub-20, com o uma disputa na final inusitada entre o time A e o time B do Vitória, num jogo disputadíssimo, decidido inclusive nos pênaltis. Isso sinaliza nesse instante, um trabalho organizado e que vem dando frutos.

Galáticos Online - Por que o clube demitiu vários profissionais na última semana?

Nelsinho Góes - Essa é uma decisão que o clube tomou por que fará uma redução das categorias. Algumas categorias irão se fundir numa só. Exemplo: Esse Campeonato sub-20 que a gente teve o time sub-18 e sub-20, que são atletas nascidos nos anos de 1999, 98 e 97. Eles vão se tornar uma única categoria, que é o sub-20 só, compreendendo essas três idades. Sub-17 e sub-16 também vão se tornar uma equipe só. Houve uma redução no quadro de profissionais também por questão de orçamento. É uma situação incômoda perder profissionais que são notoriamente competentes, mas isso faz parte do futebol . Todas as pessoas que hoje se encontram no Vitória, atletas, funcionários, etc. estão de passagem pelo clube e eu me incluo nisso. Uns saem com mais brevidade e outros saem adiante e isso faz parte do futebol. O que a gente precisa é não deixar que essas coisas abalem o trabalho.

Galáticos Online - Qual o objetivo da extinção das categorias sub-16 e 18 do clube?

Nelsinho Góes - Quando reduz essas categorias, já tem um impacto financeiro de redução disso, porque são menos atletas e menos profissionais. Isso impacta na folha mensal e na folha anual e não perde tanto a qualidade, porque fica com os melhores jogadores. O sub-16 tem mais ou menos 25 a 30 atletas e o sub-17 também, então são quase 60 atletas. Vamos reduzir para 30 atletas. Quando a comissão, juntamente com a gente faz esse planejamento, tem que ser criterioso e ficar com aqueles que entende serem os melhores.

Galáticos Online - Com toda essa reformulação, como ficam as avaliações de novos atletas no Barradão?

Nelsinho Góes - Primeiro o Vitória, através dos seus observadores, está catalogando um número muito grande das escolinhas que existem em Salvador e o clube vai acompanhar de perto este trabalho. Isso também vai se expandir, na medida do possível para o interior do estado. As avaliações internas vão ser feitas, parte por esses atletas que serão observados nessas escolinhas e pontualmente com aqueles atletas indicados. Quando eles vêm ao clube, existe um grupo especial que é formado aqui dentro. Eles treinam durante uma semana aqui dentro com aquela equipe interna, depois na outra semana eles treinam junto com as categorias. Eles passam duas semanas sendo avaliados aqui, para que a margem de erro na sua escolha diminua. Às vezes o atleta é reprovado, não por falta de qualidade. É porque não tem vaga. Um exemplo: com essa junção agora do sub-16 e 17, temos dificuldade de escolher quem vai ficar. Não é fácil. Ao escolher os que ficarão... Já foi um processo de escolha interno, duro. Não é tão fácil alguém cavar uma vaga nesse instante agora. Às vezes não há necessidade, não há carência naquela posição. Às vezes um lateral-direito fez um teste no Flamengo, perdeu e foi aprovado no São Paulo. É porque o Flamengo não estava precisando de um lateral-direito e o São Paulo estava. O atleta que é bem orientado por quem está ao redor dele, tem que ter tenacidade e buscar o espaço, porque nem todas as portas se abrem. Se tem qualidade e persiste, vai encontrar o espaço e a oportunidade.

Galáticos Online - Como é a sua relação com o gestor de futebol, Petkovic?

Nelsinho Góes - Uma relação boa, uma relação profissional. Eu passo alguns momentos com ele, em várias ações da base que passam pelo conhecimento de Petkovic, como passavam pelo Sinval Vieira (ex-diretor) também. São profissionais com métodos de trabalho diferentes, até porque são pessoas diferentes. Mas o clube segue a sua tramitação normal e as ações mais efetivas da base como contratação, dispensa ou alguma atividade que envolva algum recurso financeiro como viagem, por exemplo. Essas coisas passam pelo crivo do gestor de futebol, que no organograma está sob essa condição. Assim funciona, com transparência, com organização, não tem nenhum problema nisso.

Galáticos Online - Você acredita que o Vitória pode voltar a ser um clube formador? De que forma?

Nelsinho Góes - Quando o trabalho é bem feito e o clube tem estrutura, como é o caso do Vitória, a tendência disso é acontecer (formação do atleta). Mas eu venho dizendo: Quem revela o atleta não é a base, quem revela o atleta é o profissional. A base detecta o talento, seleciona, contribui na formação e a política. A filosofia do futebol profissional é que decide a quantidade de atletas para sua categoria de cima. De que forma vai fazer o seu plantel? Com 20% de atletas da base, com 30, 50? Isso é uma filosofia do clube. O que é que nós pretendemos no momento agora? O momento agora é o Campeonato Brasileiro (profissional). O Vitória neste momento está numa situação difícil. Então não é inteligente lançar nesse instante atletas da base ainda jovens e com pouca experiência para solucionar o problema. Esse é um tipo de problema para atletas mais experientes. Quando as coisas voltarem ao normal, é mais fácil um atleta da base entrar e se fixar na equipe de cima. Nem todo atleta da base é craque. Nem todo atleta da base é super talentoso. Às vezes é um bom jogador que encontrando um ambiente positivo, cresce e passa a se tornar até protagonista daquela equipe. Só os altamente talentosos, aqueles que são realmente muito diferenciados, que já tem 18, 19 anos, assumem as responsabilidades e parece que ele já tem três, quatro anos jogando na equipe de cima. Esses são fora de série, fora da curva. Mas dentro da normalidade é um processo de transição que quanto mais tranquilo estiver o ambiente, as chances de esse atleta responder positivamente é maior.

Galáticos Online - Qual o objetivo da base rubro-negra neste momento? Formar atletas para serem revelados ou ganhar títulos?

Nelsinho Góes - Essa é uma pergunta muito boa. Formar atletas, aptos a jogar no profissional é a principal atribuição de uma categoria de base. Ganhar títulos não atrapalha revelar. Não são excludentes as duas situações. “Ah! se eu ganhar títulos, eu não revelo ninguém. Se eu perder todos os títulos, aí que eu vou revalar”. Não. Dá pra revelar vencendo. O que não pode é atropelar etapas. Pegar atletas de 13, 14 e 15 anos e ministrar trabalhos que se fazem com jogadores de 19, 20 anos, para a obtenção de títulos, por um fenômeno do treinamento esportivo chamado “especialização precoce”. É o professor dar um assunto de uma série na frente numa série abaixo. Então às vezes o atleta dá a resposta ali porque tirou ele do treinamento normal, mas adiante ele não vai responder. Esse é um modo maléfico de se buscar títulos. Mas quando o treinamento é normal, proporcional às faixas etárias, compete e vence, é salutar. Se a vitória for legítima sobre tudo. A competição é o mais efetivo modo de se observar o rendimento e a progressão de um atleta. Muito mais do que nos treinamentos.  O rendimento do atleta é visto competindo e não treinando. Treinando dá pra ver, mas é mais efetivo sob pressão, numa disputa com adversários, todos os elementos que fazem parte de uma partida de futebol oficial. Então esse é o caminho. Vencer a qualquer custo atrapalha também. Tem que fazer dentro dos padrões, porque ninguém quer perder num baba de rua, quanto mais num jogo.  Ganhar títulos é sempre muito legal, não é primordial. Mas quando ele é ganho da forma correta, com treinamentos adequados à faixa etária e aquilo resultou na conquista do título, é enriquecimento do currículo, é uma maneira de observar o atleta de forma efetiva. São elementos que ajudam a vencer. Porque às vezes a pessoa muda o discurso. Quando perde, diz que a intenção era só revelar. Revelar independe de ganhar ou perder. Eu posso revelar perdendo títulos e posso revelar ganhando títulos. Então ganhar títulos não atrapalha na revelação.


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